terça-feira, 24 de janeiro de 2012

VERDADE

Por Ludmila Vlasikov (Cracóvia – Polônia) – ludmilavlasikov@yahoo.com.br

A evolução tecnológica e, possível e principalmente, a utilização de tecnologias diversas acelerou com tamanha intensidade a vida contemporânea que a verdade se tornou secundária, um detalhe quase obsoleto. Muitos afirmam que nunca houve tanta informação rápida e facilmente disponível. Mas, que informação é esta ? Ou seja, se ignora a essência: Quem ? Quando ? Onde ? Fez o que ? Como ? Por que ?, a qual contextualiza a informação. Sem o contexto tudo é válido, então nada tem significância. A urgência na obtenção e divulgação impede a verificação da essência, logo se origina superficialidades, imprecisões, falácias, mentiras e erros de toda ordem.

Assim como, entender um filme pela observação de algumas fotografias é impossível, também o é compreender uma informação desprovida da respectiva essência. Portanto, deveria ser inexistente a segurança em saber o Para que ? serve a informação. Obviamente, isto não é um fenômeno da atualidade, apenas foi potencializado pela tecnologia. A complexidade da verdade é tão grande quanto a existência da humanidade e lhe é simultânea desde sempre.

A verdade é íntima da história, mas esta somente é escrita pelos vencedores/dominantes e propagada indiscriminadamente por muitos, consequentemente é o relato de uma percepção, versão ou interpretação do fato ocorrido. Assim entendida, a verdade nunca é isenta, pois se encontra impregnada de valores éticos, morais, culturais, políticos, econômicos, religiosos e tantos outros, os quais são inseridos em função da competência observacional, do equilíbrio emocional e da experiência de vida dos indivíduos, tanto o é que duas pessoas diferentes descrevem uma mesma situação de formas distintas. Elas podem se confrontar, objetivando prevalecer a sua verdade, sem que qualquer das duas esteja mentindo. Isto é matematicamente suficiente para desacreditar a idéia de existência de uma e somente uma verdade em cada situação.

Além disto, quando se acredita em uma estória, esta é alçada à “história”, ganhando status de verdade independentemente da essência, de valores, das competências, dos equilíbrios e das experiências. Supostamente, as lendas são geradas e nascem nesta condição. O acreditar é um ato de fé, então não é provável, ou seja, não carece de prova, basta que se acredite ou não. Algumas pessoas não acreditam na existência passada de dinossauros ou de um ancestral comum de homens e macacos, tão pouco na possibilidade da matemática explicar a estética, exeqüibilidade da filosofia e racionalidade artística, não havendo ciência que promova mudança de postura, pois existe necessidade de prova. No mesmo sentido, outras pessoas acreditam em nomes, guias, gurus marcas, etiquetas e grifes. O resultado imediato é o preconceito. Pessoal e profissionalmente (a médio e longo prazo) acreditar em si ou no próprio trabalho significa transformar em verdade a qualidade objeto de fé.

Finalmente, a verdade é influenciada pelo tempo de forma momentânea e ampla. Além dos aspectos impactantes acima relatados, o estado de consciência é determinante, indivíduos sob alucinação, tem por verdade tudo aquilo que ouvem ou vêem, o que pode não perdurar, a volatidade é determinada pela duração da crise alucinógena. A ampla influência do tempo é mais delicada, pois tem por prerrogativa a adequada memória, não raramente a compreensão de um fenômeno ou situação tem por pré-requisito o descortinamento do mesmo. Compreender políticas públicas as mais diversas exige a análise detalhada das suas conseqüências, as quais ocorrem no plano espaço-temporal, então a interpretação primeira pode apontar ou demonstrar uma verdade que não se sustenta no tempo. Por exemplo, plano econômico ou política internacional são testados no mundo real, no qual as diversas variáveis não estão sob controle, então o motivo ou resultado verdadeiro até o momento pode não ser ratificado. E, se o for, aquela verdade contínua sendo circunstancial, por ter nascido impregnada de valores e com essência, se existente, deficiente.

Em suma, a verdade é relativa, mesmo sendo o seu fato gerador absoluto, o que a torna frágil o suficiente para ser prioritariamente vitimada em situações de crise ou estresse, prerrogativa necessária e suficente para retroalimentar a interpretação, versão ou percepção dos vencedores/dominantes.

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